Em
visita a Brasília após a vitória no pleito de outubro, o presidente eleito Lula da Silva (PT) fez acenos ao Centrão e pregou o restabelecimento da
harmonia entre os Poderes. Depois de uma audiência com o presidente do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, o petista disse que é
"plenamente possível recuperar a normalidade da convivência".
"Eu
me candidatei com o compromisso de que é possível resgatar a cidadania do povo
brasileiro, de que é possível a gente recuperar a harmonia entre os Poderes, de
que é plenamente possível recuperar a normalidade da convivência entre as
instituições brasileiras", enfatizou. "Instituições que foram
atacadas, que foram violentadas pela linguagem nem sempre recomendável de
algumas autoridades ligadas ao governo", acrescentou ele, em referência,
principalmente, ao presidente Jair Bolsonaro.
Na entrevista coletiva, Lula exaltou as urnas eletrônicas, classificadas por ele como um orgulho nacional pela tecnologia e rapidez na totalização dos votos. O presidente eleito evitou comentar sobre o relatório da auditoria das Forças Armadas, divulgado ontem, mas frisou que Bolsonaro deve aceitar o resultado do pleito. "Cabe a um presidente reconhecer sua derrota. Cabe a ele fazer uma reflexão e se preparar para, daqui a uns anos, concorrer outra vez. Assim é o jogo democrático. É respeitar a decisão da maioria do povo brasileiro", destacou.
Questionado
sobre as manifestações antidemocráticas que paralisaram rodovias federais, Lula
apontou a necessidade de identificar os financiadores desses atos. "Essas
pessoas que estão protestando, sinceramente, não têm por que protestar. Deviam
dar graças a Deus pela diferença ter sido menor que aquilo que nós merecíamos
ter de votos. E eu acho que é preciso detectar quem é que está financiando
esses protestos que não têm pé nem cabeça. Ofensas a autoridades, ameaças de
fechamento, agressão verbal", listou.
Lula
também afirmou que pretende manter uma relação cordial com o Congresso e com o
Centrão. "O governante tem de ter clareza que tem que lidar com as pessoas
que foram eleitas. Temos de convencer das coisas importantes para o país. Não
tem que olhar o Congresso e 'ah, o Centrão'. O Centrão é um conjunto de
partidos que temos que conversar e tentar convencer das nossas propostas",
minimizou. "Não enxergo dentro da Câmara, dentro do Senado, essa coisa de
Centrão. Eu enxergo deputados que foram eleitos e que, portanto, nós vamos ter
de conversar com eles para garantir as coisas que serão necessárias para
melhorar a vida do povo brasileiro."
Ele
prometeu trabalhar "24 horas por dia" e aproveitou para dar
alfinetadas em Bolsonaro. "Nós voltamos a governar o país. Não há tempo
para vingança, não há tempo para raiva, não há tempo para ódio. O tempo é de
governar. Eu não vou trabalhar apenas 3, 4 horas por dia. Vou trabalhar um dia
inteiro, porque nós temos uma dívida a resgatar com o povo pobre deste país",
destacou. "Temos uma dívida a resgatar com milhões de crianças que durante
a pandemia não tiveram a oportunidade de estudar, e essas crianças estão muito
atrasadas em relação àquelas que puderam estudar." Sobre a formação dos
ministérios, o presidente eleito afirmou que só começará a pensar no assunto
depois que voltar da COP27, a conferência do clima realizada no Egito.
Supremo
O
futuro chefe do Executivo teve agenda cheia em Brasília. Antes do encontro no
TSE, ele se reuniu com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa
Weber, e com os outros ministros da Corte. As pautas foram a transição de
governo e a importância da harmonia entre as instituições democráticas. Por
meio de nota, o tribunal disse que os magistrados apontaram "preocupações
para o Brasil, como a necessidade de investimentos em educação e meio
ambiente" e que o presidente eleito "afirmou que atuará pela
reconstrução da união" do país.
Também participaram do encontro a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann; o senador Randolfe Rodrigues; o senador eleito Flávio Dino (PSB-MA), o deputado federal eleito Paulo Teixeira (PT-SP), o ex-ministro Aloizio Mercadante, os advogados Eugênio Aragão e Cristiano Zanin e o procurador da Fazenda Nacional Jorge Messias.
Na saída da audiência, Flávio Dino disse que "acabou a era de ataques". "O presidente Lula enfaticamente declarou esse desejo de paz e normalidade entre os tribunais; convidou o tribunal a participar de outros debates importantes, a exemplo da questão ambiental, da questão das armas; reiterou a visão dele no sentido de garantir o desarmamento como princípio fundamental para que nós tenhamos o cumprimento da boa segurança pública", ressaltou.
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