Líderes europeus saíram em defesa do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, após uma áspera discussão, em público, com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca. O ucraniano estava na capital americana para assinar um acordo que abria caminho para a exploração de parte de seus recursos minerais pelos EUA, e que era visto como uma forma de manter o apoio militar dos americanos a Kiev. O plano não foi assinado, Zelensky praticamente enxotado da Casa Branca, e o futuro da guerra, e da segurança europeia, ficou em suspenso.
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discussão,Trump diz que Zelensky poderá voltar 'quando estiver pronto para a
paz'; acordo de minerais não foi assinado
O primeiro líder a se pronunciar foi o presidente da França, Emmanuel Macron, que esteve com Trump na segunda-feira. Falando a jornalistas durante uma visita a Portugal, ele afirmou que “existe um agressor que é a Rússia”, e “existe um povo agredido que é a Ucrânia”, reiterando que o apoio a Kiev segue em seus planos.
— Acho que estávamos certos ao ajudar a Ucrânia e sancionar a Rússia há três anos, e continuar fazendo isso — acrescentou.
Seu chanceler, Jean-Nöel Barrot, fez um chamado ao continente para agir imediatamente em apoio aos ucranianos
“Europa,
agora. O tempo das palavras acabou, vamos passar à ação”, escreveu no X.
Em uma publicação conjunta no X, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, António Costa, disseram que a “dignidade” de Zelensky “honra a bravura do povo ucraniano”.
“Seja forte, seja bravo, seja destemido. Você nunca estará sozinho, querido Presidente Zelensky”, diz a publicação. “Sempre estaremos trabalhando com você por uma paz justa e duradoura.”
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Zelensky repercutiu na Rússia
Ao longo da tarde, mais de 10 líderes se pronunciaram no mesmo tom.
Luis Montenegro, premier de Portugal, disse que a Ucrânia “sempre poderá contar com seu governo”, enquanto o primeiro-ministro da Suécia, Ulf Kristersson, disse que os ucranianos “não estão apenas lutando por sua liberdade, mas também pela da Europa”, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, prestes a deixar o cargo, afirmou que “ninguém quer mais a paz do que os ucranianos”.
“É por isso que estamos trabalhando juntos para encontrar um caminho para uma paz duradoura e justa. A Ucrânia pode contar com a Alemanha – e com a Europa”, escreveu no X.
Maia Sandu, presidente da Moldávia, outro país que está na mira da Rússia por suas aspirações de entrar na União Europeia, também disse que “está do lado da Ucrânia”.
“A verdade é simples. A Rússia invadiu a Ucrânia. A Rússia é o agressor. A Ucrânia defende sua liberdade – e a nossa”, disse em suas redes sociais.
A grande exceção foi o premier húngaro, Vikor Orbán, próximo ao presidente russo, Vladimir Putin, e ao republicano. Em publicação no X, disse que Trump “corajosamente defendeu a paz”, e que “os homens fortes fazem a paz, e os fracos fazem a guerra”.
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críticas
O ataque público de Trump contra Zelensky na Casa Branca, e o desfecho desastroso das negociações sobre o acordo dos recursos minerais, acenderam sinais de alerta na Europa, que desde a eleição do republicano questiona até onde vai o compromisso de Washington com a segurança do continente. O presidente tem sinalizado sua intenção de reduzir a presença militar em solo europeu, pressionado os países a elevarem seus gastos com Defesa — o que muitos já estão fazendo — e dito abertamente acreditar que o período pós-guerra na Ucrânia será um problema da Europa.
Antes das
cenas chocantes desta sexta-feira, Macron e o premier britânico, Keir Starmer,
foram a Washington em busca de algum tipo de consenso com o presidente
americano, em especial sobre a participação dos EUA na guerra. Ambos saíram sem
promessas ou compromissos, e ainda evidenciaram as diferenças dos dois lados do
Atlântico: aos líderes, Trump disse que os europeus “estavam recuperando” o
dinheiro enviado à Ucrânia, e ouviu de Macron e Starmer que os bilhões de euros
não eram um empréstimo, mas sim “um presente” a Kiev.
O Globo
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