Tesla de Elon Musk é boicotada e perde US$ 22 bilhões

 

Elon Musk, o homem mais rico do mundo, viu sua fortuna encolher em US$ 22,2 bilhões na terça-feira após as vendas da Tesla, fabricante de carros elétricos que responde pela maior parte de sua riqueza, desabarem na Europa. Nos últimos dias, a Tesla tem enfrentado ainda uma onda de boicote de consumidores e de protestos nas portas de suas lojas pelas posturas políticas polêmicas de Musk.

 

Ao mesmo tempo, investidores estão cada vez mais céticos sobre a eficácia da atuação do bilionário no governo do presidente americano Donald Trump. Musk foi indicado para o cargo de chefe do Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês) e, apesar de anúncios midiáticos de demissões e cortes de custos, as medidas implementadas até agora representaram uma economia de menos de 1% do orçamento do governo federal.

As ações da Tesla despencaram 8,4% na Bolsa de Nova York na terça-feira, após a empresa informar que as vendas de seus carros na Europa desabaram 45% em janeiro, mesmo num momento de expansão da frota de veículos elétricos no mercado europeu. Com a queda, a empresa de Musk perdeu valor de mercado, ficando abaixo de US$ 1 trilhão.

Mesmo com a queda de terça-feira, reduzindo seu patrimônio líquido para US$ 358 bilhões, Musk ainda é cerca de US$ 100 bilhões mais rico do que era antes da vitória de Trump nas eleições de novembro, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.

 

A empresa está mostrando sinais particulares de dificuldade justamente em lugares onde seu CEO está se envolvendo na política de maneiras que contradizem a missão e os valores declarados da Tesla. Na Califórnia, as vendas da empresa caíram 12% no ano passado, enquanto Musk atacava líderes de um estado que desempenhou um papel crucial na sobrevivência da montadora durante seus turbulentos primeiros anos e na transformação da empresa em uma das mais valiosas do mundo

Na Alemanha — onde os registros despencaram 41% no ano passado e 59% em janeiro — o bilionário apoia enfaticamente um partido de extrema-direita que nega os danos das emissões de dióxido de carbono. E no Reino Unido — agora o maior mercado de veículos elétricos da Europa — Musk se alinhou a políticos que querem eliminar as metas de emissões zero e que classificam políticas de incentivo à adoção de veículos elétricos como uma “guerra contra os motoristas.”

— O maior desafio da Tesla em 2025 não é a tecnologia — é a percepção — diz Jacob Falkencrone, chefe global de estratégia de investimentos do Saxo, o banco dinamarquês com mais de € 105 bilhões (US$ 110,2 bilhões) em ativos de clientes. — A bagagem política de Elon Musk agora está pesando sobre as vendas, a fidelidade à marca e a confiança dos investidores.

Protestos de consumidores

Nos últimos dias, instalações da Tesla em vários países têm sido alvo de protestos de consumidores. Na fábrica da montadora nos arredores de Berlim, ativistas projetaram imagens do gesto polêmico de Musk na fachada do prédio em um protesto que foi visto milhões de vezes no X, sua plataforma anteriormente conhecida como Twitter.

 

Showrooms da Tesla foram vandalizados na Holanda e nos estados americanos de Colorado e Oregon e, ainda, em Washington. No fim de semana, manifestantes protestaram em frente a várias lojas da Tesla nos EUA.

Tae Helton, um entusiasta de carros que mora a poucos minutos da fábrica principal da Tesla na Califórnia, comprou um modelo da empresa para a frota da família e quase adquiriu um segundo no ano passado. No entanto, após Musk fazer gestos que lembravam uma saudação nazista em um evento de posse do presidente Trump no mês passado, ele não quer mais nada com a marca.

— O orgulho e a sensação boa que eu tinha ao dirigir se foram para mim — disse Helton sobre o Model 3, que rodou apenas cerca de 4.000 quilômetros. O moderado politicamente de 49 anos pretende quitar seu empréstimo do carro antecipadamente e trocar o sedã antes do fim do ano.

Tae Helton posa ao lado de seu Tesla Model 3 — Foto: Bloomberg

Helton não está sozinho entre os clientes da Tesla e os consumidores. Musk está mal avaliado entre britânicos, alemães e suecos, com uma pesquisa na Suécia indicando também um aumento da percepção negativa em relação à Tesla. Os registros do Model Y no país caíram 48% no mês passado, enquanto as vendas do Model 3 recuaram 31%.

 

O Pew Research constatou que a maioria dos americanos tem uma visão desfavorável de Musk, enquanto a Universidade Quinnipiac revelou que grande parte dos eleitores acredita que ele tem poder excessivo para tomar decisões que afetam os EUA. Um estrategista republicano que defende a adoção bipartidária de veículos elétricos no país descobriu que Musk agora é mais popular entre pessoas que dirigem carros a gasolina do que entre aquelas que possuem elétricos.

''Eu costumava ser adorado pela esquerda ", disse Musk durante uma entrevista conjunta com Trump ao apresentador da Fox News Sean Hannity, exibida na semana passada. "Hoje em dia, menos."

Alguns consumidores não vão nem considerar os novos modelos da Tesla. Eric Thurber, morador da região da Baía de São Francisco que comprou um Model 3 em 2021, esperava ficar com o carro por pelo menos cinco ou seis anos. Após o dia da posse, ele decidiu vendê-lo com um grande prejuízo.

— Eu não conseguia mais lidar com o que Elon Musk estava fazendo —disse o homem de 58 anos.

 

Thurber havia checado o valor de revenda do carro meses antes e recebia atualizações periódicas mostrando que ele estava se desvalorizando rapidamente. Embora ainda devesse cerca de US$ 27 mil pelo Model 3, decidiu se desfazer do veículo quando a Carvana estimou seu valor em aproximadamente US$ 22 mil. Ele trocou o carro por um sedã elétrico BMW i4.

MUsk e Tesla foram alvo de protestos também em Berkeley, outra cidade da Califórnia — Foto: Bloomberg

Micah Barber, professor universitário em Austin — cidade para onde Musk transferiu a sede da Tesla no final de 2021 —, atualmente dirige um SUV Chevrolet Equinox a gasolina e planeja fazer do próximo carro da família um veículo elétrico. Embora admire a inovação que a Tesla trouxe para a indústria automobilística, ele descartou a possibilidade de comprar um carro da empresa por causa de Musk.

—Ele se tornou uma das pessoas mais perigosas do nosso país —disse Barber, de 43 anos, sobre Musk, durante um protesto realizado neste mês no showroom da Tesla na capital do Texas.

Interesse em outras marcas

As marcas que estão ganhando participação de mercado às custas da Tesla variam de acordo com a região. Na Califórnia, Honda e Hyundai foram as montadoras que mais conquistaram espaço no mercado de veículos elétricos do estado no ano passado. Na Alemanha, as marcas VW, Seat e Skoda, do grupo Volkswagen AG, além da BMW, registraram os maiores aumentos nas vendas em janeiro.

 

A maioria dos clientes da Lucid Group historicamente já possuía Teslas, e a fabricante do sedã Air, de US$ 69.900, tem observado um aumento no interesse nos últimos trimestres, afirmou a empresa em um comunicado por e-mail. O CEO da Polestar, a montadora de veículos elétricos derivada da Volvo, disse à Bloomberg News no mês passado que instruiu os vendedores a focarem nos proprietários insatisfeitos da Tesla.

— Três ou quatro anos atrás, dava para dizer que era praticamente uma corrida de um só cavalo — disse BJ Birtwell, CEO da Electrify Expo, que organiza festivais de veículos elétricos para consumidores nos EUA. — Agora, a competição está tão acirrada que a maioria das montadoras tem ofertas realmente fortes, criando um nível de concorrência para a Tesla que ela nunca enfrentou antes.

Helton, o proprietário do Model 3 que gostava de comprar carros fabricados perto de sua casa na região da Baía de São Francisco — incluindo veículos produzidos por amigos que trabalham na fábrica da Tesla —, fez planos preliminares para adquirir outro modelo da empresa logo após o primeiro test-drive que sua família fez no ano passado. Embora tenha notado alguns "sinais de alerta" sobre Musk quando encomendou o sedã em maio, ele não estava inclinado a penalizar a empresa inteira por isso.

Na Califórnia, as vendas da Tesla caíram 12% no ano passado — Foto: Bloomberg

Depois que Musk intensificou suas atividades políticas, o profissional de recursos humanos ficou relutante em comprar outro Tesla. Sua família decidiu então alugar um Hyundai Ioniq 5.

— Sempre senti que, se meu voto não influenciasse o que eu desejava, a outra maneira de expressar minha opinião seria através do meu dinheiro, seja com a Tesla ou qualquer outra coisa. Ultimamente, tenho votado com a minha carteira — contou Helton.

Esperança de aumento das vendas

Apesar da queda das vendas, a administração da Tesla disse aos investidores no mês passado que espera que o negócio de veículos volte a crescer este ano, embora tenha evitado fornecer números específicos. Três meses antes, Musk afirmou que via potencial para um aumento de 20% a 30% nas vendas.

Há motivos para otimismo em relação ao aumento das vendas da Tesla neste ano, apesar do início de ano lento. Parte da fraqueza nas vendas no começo do ano está relacionada à reformulação das linhas de produção do Model Y, seu veículo mais popular, que foi redesenhado. A atualização das quatro fábricas que montam o SUV resultará em várias semanas de produção perdida neste trimestre, disse o diretor financeiro Vaibhav Taneja no mês passado.

A Tesla também informou aos investidores que modelos mais acessíveis estão a caminho da linha de produção a partir do primeiro semestre deste ano, embora tenha dado poucos detalhes sobre os veículos. Enquanto as ações da montadora caíram 37% em relação ao recorde atingido em meados de dezembro, ainda acumulam alta de 20% desde as eleições de 5 de novembro.


O Globo

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