A Polícia Federal está atrás das pegadas de Bolsonaro nos EUA

Ricardo Noblat - O tenente-coronel Mauro Cid tinha duas opções ao depor à Polícia Federal: dizer que falsificou a carteira de vacinação de Bolsonaro sem que ele soubesse, ou que a falsificou a pedido dele.

Aconselhado por seus advogados, Mauro Cid, preso há 15 dias por ordem do ministro Alexandre de Moraes, escolheu outra saída: ficar calado. Não responder a nenhuma pergunta.

O silêncio de Mauro Cid deixou Bolsonaro apreensivo, tanto que logo sua assessoria passou a espalhar que não, que foi muito bom para ele. É sempre assim toda vez que Bolsonaro se enrasca.

O ex-presidente esperava que Mauro Cid o inocentasse, dizendo que ele nunca soube nem encomendou a falsificação. Acontece que isso equivaleria a um suicídio para o tenente-coronel.

Ele estaria assumindo sozinho a culpa por um crime, porque é disso que se trata. Ou jogaria a culpa nas costas de terceiros. Está mais do que provado o envolvimento de Mauro Cid na falsificação.

Qualquer investigação de um crime começa com a pergunta: a quem interessava? A quem o crime beneficiaria? A Mauro Cid certamente que não. Ele fez o que lhe mandaram. Quem mandou?

Faz sentido, à revelia de Bolsonaro, seu principal ajudante de ordem falsificar a carteira de vacinação para presentear quem jura que nunca se vacinou? Não era hora de brincar de amigo-oculto.

Só Bolsonaro teria algo a ganhar com a fraude do seu cartão. Não precisou dele para entrar nos Estados Unidos simplesmente porque fugiu daqui ainda na condição de presidente.

Mas quando deixou de ser, 24 horas depois, e para circular com liberdade em outro país, talvez fosse obrigado a provar que havia se vacinado. Michelle Bolsonaro, por exemplo, vacinou-se.

O silêncio de Mauro Cid pode ter sido bom para ele, que não se incriminou e ganhou mais tempo para pensar no que fará da vida. Mas para Bolsonaro, com toda certeza, não foi.

Continuará pesando sobre sua cabeça uma dúvida mortal: para atenuar sua pena, será que Mauro Cid, mais adiante ou desde já, terá a coragem de colaborar com a Justiça, traindo-o?

Bolsonaro abandonou Mauro Cid ao depor à Polícia Federal na semana passada, e novamente ontem ao afirmar:

“Peço a Deus que [ele, Mauro Cid], não tenha errado. E cada um siga sua vida”.

Só faltou dizer: cada um siga sua vida, mas separados.

A propósito: a Polícia Federal está levantando os lugares por onde Bolsonaro passou nos Estados Unidos para ver se em algum lhe pediram o cartão de vacinação.

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