A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, foi presa nesta quinta-feira durante um protesto em Caracas na véspera da posse do presidente Nicolás Maduro para um terceiro mandato consecutivo de seis anos. A ex-deputada estava vivendo na clandestinidade no país há 133 dias após ser alvo de ameaças de prisão do regime, e fez sua primeira aparição pública na manifestação depois de mais de quatro meses escondida. Segundo assessores, seu paradeiro atual é desconhecido.
O partido de María Corina, Vem Venezuela, denunciou em uma
publicação nas redes sociais que a opositora foi “violentamente interceptada”
ao sair do protesto. De acordo com assessores, ela era escoltada por um comboio
de motos quando o grupo foi atacado a tiros por agentes do regime, que a
sequestraram.
Durante a manifestação, convocada por ela nas redes sociais, a líder da oposição venezuelana reivindicou a vitória do ex-diplomata Edmundo González nas eleições de junho do ano passado, alvo de acusações de fraude por grande parte da comunidade internacional. Em discurso, ela disse que "o regime acabou" e manifestou seu orgulho dos venezuelanos que saíram às urnas.
— O que quer que eles façam, amanhã sentenciará o fim do regime. A Venezuela já decidiu, a Venezuela é livre. O regime acabou — disse, pedindo aos apoiadores para que seguissem "com muito cuidado todos os sinais que vamos dar nos próximos dias". — Não tenhamos medo.
González, em exílio na Espanha desde setembro, a substituiu
na corrida eleitoral após ela ter sido inabilitada pela Justiça, alinhada ao
chavismo, de concorrer a cargos públicos por 15 anos. Nesta quinta-feira, ele
visitou a Republicana Dominicana, a última parada da sua tour pela América
Latina, e prometeu retornar a Caracas para tomar posse nesta sexta.
— Os venezuelanos recuperarão sua liberdade muito em breve — garantiu González. — Nos veremos em breve em Caracas, em liberdade.
Após a repercussão da prisão e desaparecimento de María Corina, González reagiu: “Como presidente eleito, exijo a libertação imediata de María Corina Machado. Para as forças de segurança que a sequestraram, eu digo: não brinquem com fogo”, escreveu em sua conta no X.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão máximo eleitoral do país, proclamou a vitória de Nicolás Maduro em julho sem apresentar — até hoje — as atas que comprovariam o resultado. A oposição, por outro lado, mostrou cópias de mais de 80% dos boletins das urnas que atestam a eleição de González. Pesquisadores e observadores internacionais, como o Centro Carter, corroboraram o resultado apresentado pelos opositores. Desde então, diversos países reconheceram o opositor como presidente eleito da Venezuela.
A prisão de María Corina acontece em meio a um plano militar ativado há dois dias por Maduro, conhecido como Órgão de Defesa Integral da Venezuela (ODI). As Forças Armadas e policiais de todo o país foram mobilizadas sob a alegação de que havia planos para impedir a posse do ditador nesta sexta-feira.
"Que se ativem, a partir de hoje, durante os dias 8 e 9
[de janeiro] a nível nacional. E que as ODI ativadas integralmente em todos os
estados, municípios, paróquias e comunidades garantam o que será a vitória
exemplar da paz da Venezuela nos dias que estão por vir", ordenou Maduro.
A reeleição contestada de Maduro gerou uma onda de protestos no ano passado que deixou 28 mortos, 200 feridos e mais de 2.400 detidos, incluindo adolescentes. Grande parte dos detidos foram acusados de terrorismo e enviados para prisões de segurança máxima. Cerca de 1.500 já foram libertados.
O Globo
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