Governadora de Pernambuco se aproxima de Lula ao ingressar no PSD, enquanto prefeito do Recife consolida aliança com o PT; cenário sinaliza antecipação da disputa de 2026

A disputa entre Raquel Lyra (PSD) e João Campos (PSB) deixou de ser apenas um embate local entre governo estadual e prefeitura do Recife. O jogo agora é outro: os dois líderes políticos pernambucanos tornaram-se peças-chave no tabuleiro da política nacional. E os eixos que sustentam essa polarização são claros — de um lado, a federação de centro-direita liderada pelo PSD; do outro, o PT e o campo lulista.
Em março de 2025, Raquel Lyra oficializou sua saída do PSDB e filiou-se ao PSD, partido comandado por Gilberto Kassab e com forte influência nacional. A mudança não foi apenas burocrática: sinaliza uma estratégia de aproximação com o governo federal e um possível realinhamento político para 2026.
A governadora, que até então mantinha uma postura mais técnica e independente, passou a se aproximar de nomes importantes do PT, como o deputado João Paulo (PT) e o senador Humberto Costa. Embora o PSD não integre formalmente a base lulista, Raquel vem sendo vista como uma ponte viável entre o centro-direita e o Planalto.
Enquanto isso, João Campos consolida sua posição como favorito do campo progressista. Prefeito do Recife e herdeiro político de Eduardo Campos, ele mantém diálogo direto com Lula e já garantiu espaço para partidos aliados — como o PT e o MDB — em sua gestão. Campos trabalha para ampliar seu leque de alianças, de olho não só na reeleição em 2024, mas também numa possível candidatura majoritária em 2026.
A movimentação de ambos não passou despercebida. Internamente, o PT está dividido: uma ala mais pragmática vê com bons olhos a aproximação com Raquel Lyra, sobretudo por conta da força que ela tem no interior do estado. Já outra parte do partido defende fidelidade total ao projeto de João Campos, que sempre manteve portas abertas aos petistas.
Na prática, o que se vê é uma nacionalização da política pernambucana. O embate entre Raquel e João ganhou contornos de prévia da eleição presidencial de 2026. A governadora representa um centro-direita em transição, com diálogo aberto com Lula, mas sem romper com sua origem liberal. Já o prefeito recifense simboliza a continuidade de uma esquerda moderada, com raízes populares e influência crescente no cenário nacional.
Com essa disputa, Pernambuco volta ao centro do debate político brasileiro, tal como aconteceu nas eras Eduardo Campos e Lula. E o que se desenha agora é uma batalha que vai muito além dos limites do estado — com PSD e PT travando uma disputa de estratégias, narrativas e alianças que pode definir os rumos do país nos próximos anos. Da Folha de S. Paulo