Corrida por visibilidade política antecipa disputa eleitoral e levanta alertas sobre sustentabilidade da dívida pública

Com as eleições de 2026 se aproximando, o cenário político em Pernambuco já tem dois protagonistas claros: o prefeito do Recife, João Campos (PSB), e a governadora Raquel Lyra (PSD). Ambos estão em plena movimentação — não apenas política, mas também fiscal. O volume de empréstimos contratados e solicitados por seus governos revela mais do que uma estratégia de investimento em infraestrutura: expõe a disputa velada por espaço, visibilidade e legado.
João Campos já contratou ou solicitou mais de R$ 3,5 bilhões em empréstimos desde que assumiu a Prefeitura do Recife. Os recursos estão sendo usados em obras espalhadas por toda a cidade, principalmente em áreas historicamente negligenciadas, como comunidades periféricas, pontes, saneamento e mobilidade. O prefeito vem apostando na máxima: obra é voto visível.
Já Raquel Lyra, no Governo de Pernambuco, acumula mais de R$ 9 bilhões em pedidos de crédito — entre contratos já firmados e outros ainda em negociação ou pendentes de aprovação na Alepe. Os valores são voltados a projetos estruturantes do Plano Plurianual 2024–2027. Mas, diferentemente de João Campos, Raquel enfrenta resistências políticas internas: a oposição na Assembleia Legislativa tem travado parte dessas liberações, o que pode prejudicar o ritmo de entrega e, por consequência, a percepção pública de seu governo.
Ambos justificam os empréstimos com discursos técnicos: recuperação fiscal, capacidade de endividamento, investimento em infraestrutura. Tudo legítimo. Mas é impossível ignorar que esses recursos chegam num momento crucial: o pré-jogo eleitoral.
João Campos tem sido habilidoso na construção de uma imagem de gestor moderno e eficiente. Com as obras em ritmo acelerado e uma comunicação pública bem trabalhada, ele tem pavimentado — literalmente — sua candidatura a cargos maiores, nitidamente o Governo do Estado ou até algo nacional, dependendo do xadrez partidário.
Raquel, por sua vez, tem adotado uma linha mais institucional, mas enfrenta dificuldades políticas para aprovar seus projetos — especialmente junto à Alepe. Sua base ainda busca coesão, e os embates com o Legislativo podem desgastar sua imagem se não forem rapidamente convertidos em resultados concretos.
O discurso técnico não pode, no entanto, esconder a realidade: ambos os gestores estão empurrando para o futuro um volume expressivo de endividamento. Em um cenário nacional ainda incerto, com juros elevados e pressão fiscal sobre os entes federativos, esse crescimento da dívida pública — ainda que dentro dos limites legais — exige cautela.
A pergunta que fica: os resultados dessas obras — muitas das quais ainda em fase de projeto — chegarão a tempo de impactar a percepção do eleitor? Ou as faturas começarão a pesar antes que os dividendos políticos se concretizem?
O Recife é, historicamente, o maior colégio eleitoral de Pernambuco. Quem o controla, larga com vantagem. Mas em 2026, a disputa será estadual, e o eleitor vai julgar quem entregou mais, quem se comunicou melhor — e quem endividou menos.
Tanto João quanto Raquel parecem dispostos a tudo para mostrar serviço. E os bilhões que estão sendo contratados mostram que, para eles, a política é feita com concreto, asfalto e obras visíveis. A dúvida é: o povo vai comprar essa conta?
Por: CLAUDEMI BATISTA