Líder do PT na Câmara solicita ao BC identificação de quem lucrou com operações cambiais antes do anúncio das tarifas dos EUA sobre o Brasil

O líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), protocolou na sexta-feira (19) um pedido formal ao Banco Central solicitando a identificação de operadores que realizaram transações de câmbio de alto valor na manhã de 18 de julho — horas antes do governo dos Estados Unidos anunciar a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros.
Segundo o parlamentar, houve uma “movimentação incomum” no mercado cambial naquele dia, sugerindo possível uso de informação privilegiada por parte de operadores financeiros. O documento menciona diretamente a gestora internacional Tolou Capital Management, que teria registrado lucros de até 50% em poucas horas, levantando suspeitas sobre o acesso antecipado a dados ainda não públicos.
“É dever do Banco Central proteger a integridade do mercado financeiro, a soberania nacional e a ordem democrática brasileira. Há indícios de que esse episódio extrapola o mercado e toca em interesses geopolíticos e institucionais sensíveis ao país”, afirmou Lindbergh em nota.
Pedido detalhado
Na petição enviada ao BC, o deputado solicita a identificação dos responsáveis por operações cambiais com valor igual ou superior a R$ 500 mil realizadas na manhã de 18 de julho. O pedido inclui:
- Detalhamento dos valores e horários das transações;
- Identificação das instituições intermediárias envolvidas;
- Revelação dos beneficiários finais;
- Análise de padrões atípicos no comportamento do mercado.
O documento também pede que as informações apuradas sejam encaminhadas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), à Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Conexão com Eduardo Bolsonaro e “guerra híbrida”
A petição também faz referência ao inquérito que investiga o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por obstrução de justiça, coação no curso do processo e atentado ao Estado Democrático de Direito. Segundo Lindbergh, os lucros extraordinários no mercado cambial podem ter relação com essa investigação em curso.
O documento cita ainda informações da Advocacia-Geral da União (AGU), segundo as quais o “tarifaço” norte-americano seria parte de uma “estratégia de chantagem geopolítica” contra ministros do STF — supostamente articulada por membros da cúpula política nacional com apoio de interesses estrangeiros.
Para Lindbergh, o episódio pode configurar uma “guerra híbrida”, em que canais financeiros são usados de forma ilícita para promover instabilidade institucional e gerar ganhos ilícitos.
AGU também pede investigação
Em paralelo, a própria AGU solicitou ao Supremo Tribunal Federal que investigue operações de compra e venda de dólares ocorridas durante o chamado “tarifaço de Trump”. A preocupação do governo é de que dados sensíveis sobre a política externa tenham sido vazados e explorados para fins políticos e financeiros.
O Banco Central ainda não se manifestou oficialmente sobre o pedido.
Por Felipe Salgado